por Delano Mothé.

Sou qualquer coisa que se rarefez
em órbita distante do que fui.
Daquilo que aparentava ser eu
só me resta a convicção desta incompletude
que me ocupa inteiro.
No desconsolo de cada fragmento
muito pouco de mim se revela.
Os estilhaços da imagem que se me refletia
expuseram em carne viva
toda a sede e penúria de um coração.

Urge agora o impulso candente
de arder-se a flama do voo às Alturas
em proporção direta com a funda lacuna
e direção inversa do oco autocárcere.
Vazio titânico é estrela nascente:
no excesso do si a implosão transmutante
Big Bang a gerar novos mundos de ser.

Minhalma se acende em seu Sol de avidez
quer se unir em consórcio ao clarão do Luar
mais e mais se compraz no total desnudar-se
p’ro conúbio a somar cada par gêmea face.
Sela o beijo eterno ao mais íntimo altar
ansiando, solene, o sacratíssimo enlace.

O pulso da vida se reduz em um par:
metades caladas a um verbo só conjugar
de emudecer bocas, poros e mentes
grandiloquente fala transpessoal
a fluência muda do casal nubente
silencioso em reler o próprio caos
refundindo seus polos, seus entes
ying e yang transcendentes…

Vem, quietude do espírito!
Transborda-me de sentido
transmuta a goteira do tempo
em torrente de água benta
a transpirar dessas núpcias:
aliança profunda, ser adentro…
E tudo esgota na serenidade
de nossas dúbias gotas de suor…
Nos mais secretos refolhos
a introversão da libido:
o deleite em minhas veias se transubstancia
toda erógena zona se põe em harmonia
para o gozo eterno de cada instante…
Reino então completo, sem peias
cintila o Divino, Fogo em cadeia
Glória sublime: novo Patamar…
União consagrada em êxtase
matrimônio místico a integrar
eu Homem em mim mesmA…


(Poema composto a partir de ideia básica originalmente concebida em dezembro de 1998, com substanciais adaptações e aprimoramentos conceituais ultimados em agosto de 2011, propiciados pela misericordiosa inspiração dos Mentores Espirituais de nossa Escola Espiritual-Cristã de Sabedoria e Felicidade. Renovamos, aqui, nossa eterna gratidão àquele que nos abre as Portas Celestiais, nosso Professor-Médium-Sacerdote encarnado Benjamin de Aguiar, por seu perseverante ministério de amor e serviço ao Bem comum, assim como pelos estímulos fraternos que nos dedica, generosa e diuturnamente, no sentido de nossa melhoria pessoal em todos os campos existenciais.)